8.10.09

telhado com chuva




Trabalhos no telhado. Acima, Claudio arrumando a madeira da canaleta (calha) e beirais no bico lateral-frontal



Abaixo, linha de montagem das telhas que serão colocadas sobre a canaleta




4 comentários:

Demian disse...

Boa tarde, Carolina!

Primeiramente, parabéns pelo projeto, visualizei as fotografias de sua obra desde o começo.

Entretanto, notei a idealização das telhas furadas. Perdoe-me se não entendi ou li os textos na íntegra, mas como fica o acesso aos pássaros, morcegos e umidade ao interior do telhado? Será vedado o acesso entre a canaleta e ao vão livre das tesouras?

Já morei em casa com platibandas e tinha problemas de entupimento dos dutos de queda de 75 mm da canaleta por folhas trazidas com o vento e, consequentemente, inundava a laje. Você prevê algum tipo de 'ladrão' para escoar água para fora em caso de enchimento da canaleta durante chuvas fortes?

Um abraço!
Demian Andrade
Eng. Civil

Carolina disse...

Olá, Demian,

obrigada por enviar seu comentário, bom saber que há também colegas profissionais da construção acompanhando nosso trabalho. As postagens estão um pouco atrasadas, mas a estrutura para completar o blog continua em dia e o registro total da obra está garantido.

Como não encontrei nenhum email seu, vou tentar conversar com você aqui pelo blog mesmo, espero que encontre este texto.

Primeiro, sobre o telhado, gostaria de contar que Michel e eu, arquitetos de projeto e obra, não estamos mais como responsáveis pela solução. Após um processo que ao longo de doze meses teve pelo menos cinco soluções definitivas para a cobertura, a proprietária optou pela sugestão do mestre de obras, que é este telhado de quatro águas com beiral que está sendo construído. Essa decisão também foi um processo e aconteceu por volta da segunda metade de agosto. Ainda estou pensando em como vou registrar
essas questões no blog.

Para nós arquitetos, o primeiro ponto é que essa solução é esteticamente incompatível com o restante do projeto. Na verdade, é até impossível separar o projeto por "partes"(sobre isso, escrevemos bastante na postagem de 30/08/2008). A penúltima solução proposta era de aproveitamento da cobertura como um grande terraço. A última solução que propusemos resolveria as suspeitas de infiltração da laje plana com manta. A cobertura acessível seria perdida, sem no entanto comprometer o desenho de linhas ortogonais da casa, da seguinte mandeira: teríamos um telhado de duas águas com telhas de fibrocimento em "v", com a calha central, de chapa metálica, devidamente dimensionada com rufo e pingadeira nas extremidades. Haveria uma calha na volta toda, porém coberta pelo rufo. A única calha a céu aberto seria esta central, de fácil acesso (pelo abrigo de caixas d'água) e poderia ser larga e profunda o suficiente para espaçar ao máximo a periodicidade de manutenção. O projeto tinha um consumo de madeira reduzido e poderia ser executado em uma semana.

(continua)

Carolina disse...

(continuação)
Nossos argumentos estéticos, embasados tecnicamente pelo engenheiro que presta consultoria à obra, foram refutados. Nesse momento, não tivemos outra opção senão a de aceitar que a solução estava totalmente nas mãos do mestre de obras. Como o telhado em execução tem total aval de profissionais de confiança da nossa cliente e por questões de diplomacia com a m.d.o no dia-a-dia, evito fazer qualquer tipo de comentário sobre o que vem sendo realizado na cobertura. Meu trabalho naquele setor está restrito a registrar e garantir o fornecimento do material em dia.

De qualquer forma, vou sondar a respeito da sua colocação sobre a entrada de animais por essas telhas perfuradas. Ontem até fotografar essas telhas, eu não tinha a menor idéia de que a solução para captação de água das calhas seria essa, mesmo tendo feito várias perguntas sobre a solução do telhado após a decisão final. Assim como o abrigo de caixas d'água, fruto de nosso projeto arquitetônico para laje-terraço, foi apropriado pelo mestre em sua proposta, pensamos que nosso projeto para calha no beiral, proposto em uma das versões definitivas para o telhado, também tivesse sido incorporado por ele. Nessa nossa proposta antiga, a calha seria totalmente descoberta e independente do telhado. Constatar a solução que está sendo executada foi realmente uma surpresa. Minha maior aflição diante do fato, apesar de até me comover com a beleza própria do trabalho artesanal, foi pensar no tanto de tempo que isso toma, sendo que estamos com o cronograma apertado e que o serviço de calha poderia ser algo facilmente terceirizado - esta foi outra batalha que perdemos nessa reta final, de contratação de mais mão-de-obra para cumprir o cronograma já esticado e entregar a obra até o final do ano.

Quanto ao escoamento de água, há 6 prumadas de 75mm distribuidas ao longo da canaleta, para uma área de 150m2. Os caimentos estão muito bem executados, a qualidade da mão-de-obra nesta obra é impecável. (Na verdade, peca pelo excesso, como no caso desta calha de alvenaria, que poderia ser simplificada e agilizada por soluções mais contemporâneas). Mesmo assim, vou levantar a bola e ver onde caberia o ladrão, aproveitanto que nem toda a extensão da canaleta já está devidamente finalizada com a manta.

Muito obrigada pelos comentários e pela atenção aqui no blog!

Abraço,
Carolina.

Demian disse...

Olá Carolina,

recebi sua resposta sim! É, às vezes temos que ceder e aceitar as soluções que o cliente quer, mesmo que fira nossos conceitos. Desde que não comprometa a segurança.

Uns tempos atrás trabalhei no projeto da casa de Roger Wright, em Búzios (a família que faleceu no acidente aéreo).

A casa é belíssima, em forma de avião ou H, foi idealizada por um arquiteto toda em madeira laminada colada com vigas expostas. Como era de frente para o mar e o cliente navegava, isso conferia um "ar naval" para a casa.

As vigas de 40 e 60 cm de altura foram calculadas aqui em Florianópolis, onde entramos para trabalhar.

Sua esposa, ao ver o projeto em madeira, imediatamente refutou o desenho e disse que "casa de madeira é casa para pobre". O projeto teve quer ser todo alterado, desde esconder todos os grandes parafusos que não só uniam as peças, mas também eram parte do contexto. Ela pedia tantas alterações no projeto que o arquiteto o abandonou.

Acho que ainda tenho as fotografias da época da montagem da estrutura em madeira. Caso lhe interesse, posso mandá-las por e-mail.

Voltando à sua obra, sobre o trabalho artesanal, também foi o que me chamou a atenção, afinal, são várias telhas a serem trabalhadas.

Obrigado pela sua resposta bem detalhada, expondo estratégias e soluções!

Sucesso na continuação da obra!

Um abraço,
Demian.